terça-feira, 11 de dezembro de 2007



"Eu vivo aqui onde a desgraça de um é o ganha pão de outro
Vivo no deserto, o círculo danado dos sedentos, ninguém conversa
e se conversam é sobre fofoca ou dinheiro.
O louvor não é melhor que a reprovação.Minhas palavras se perderam entre as deles.
Tenho todas as cicatrizes de minha arte. Sou eu a guardiã dela? Quem chama quem? Será que ela ouve meu grito ou sou eu que respondo ao seu?
O que aparece não é o que é. Estou farta do amor... tal como querem me dar...
Eu ainda sou movida por coisas distantes de mim, e preciso dos lugares escuros pra me livrar do senso comum, para ultrapassar o presunsoço círculo da luz elétrica que supoe iluminar o mundo.
Estou farta de palavras delicadas exauridas pelo uso excessivo.
Moro em uma cidade que eu nao gosto de mencionar porque em mim ela oficialmente nao existe, uma cidade onde as pessoas desaparecem todos os dias e eu dou duro pra me manter aquecida.
Entao quem eu sou? o que eu quero:
Acima dela, a lua cheia como uma moeda clara e na água o meu reflexo
Usar a lua atrás da cabeça como um santo usa um halo.
Atirar pétalas na água e agitar as estrelas
Isto é o que sou, isto é o que quero, alterar o mundo aparentemente sólido, pairar sobre ele como a lua paira sobre ele, moldando-o de conformidade com a hora... Trazer rosas brancas, só para você as vermelhas.
O que eu quero em alguem?
Ama-me alguem em minha tolice, a mesma tolice que eu amo, ama minhas palavras e meus restos mortais. Sê para mim igual a maré na constância da mudança, rebenta em cima de mim onde eu me sinto mais segura, sê uma praia pra mim, quando tenho medo de ser uma onda na água, infindavelmente me desfazendo. Levanta-me como uma concha na areia, ora vazia ora cheia.
Ama-me como me amo e existem ainda canções.
Assim eu sou: a portadora da rosa e sou a própria rosa, trazendo sempre rosas brancas e nunca a rosa vermelha.
Eu sou uma eterna súplica pra que me encontrem..."
Trecho adaptado do livro Arte e Mentiras de Jeanette Winterson.
foto: Eduardo Schimidt


Pra você



Olhos grandes esperando o verão

Sorriso quente entrando na carne, ilumina a alma

Quietude buscando a calmaria calado

Liberdade que anuncia: mudar a caminhada

Amanhece na alegria que enobrece a estação



Ternura no carinho, sinceridade no desejo

Voa alto vacilando para nao mostrar o medo

Cuidado egoísta desvelando a outra verdade

Choro sem jeito pra dar o primeiro passo



Cai a máscara, impõe desejos e vai

Esquece o uniforme que vestiu outrora

Ícaro solitário num vôo perdido

Desejo guardado por temer o futuro



Tropeçou no infinito de propósitos imaginários

Gritou um berro surdo de sua ferida

Sofreu a desesperança de esquecer o coração

Continuando o vôo de quem sobe ao topo



Sorriu tímida a vaidade, respondeu veloz a carência

Cativou a distância entre a ânsia e o segredo

Me pergunto se eu seguiria

Mas ele apenas segue e isso me encanta...



La Rosa



"Mas sonho voar, não ser como os anjos são, mas me elevar acima da pequenez de tudo.
Da pequenez que sou eu. Contra a morte diária a iconografia das asas."

Do livro Arte e Mentiras.