segunda-feira, 24 de agosto de 2009

um passo tímido ainda é um passo!


Qual a diferença entre um amor que começa e um amor que termina?
Onde fica essa linha que separa um sorriso de uma lágrima?
Talvez tenha sido por isso que evitei tantas vezes um relacionamento...Hoje vi vários filmes falando sobre amor e suas formas, alguns como o objeto principal da peça e outros como a mola que movia ações.
Me lembrei de uma velha palavra que eu evitei por tanto tempo escutar, mas não somente com os ouvidos e sim com o corção.
A palavra era traição e me lembrei de todas as vezes que eu nunca trai, e não me recordei de nenhuma que não houvesse sido traída, foi uma pontada no peito, mas uma luz pra entender o amor que sinto, um amor maior que isso.
Me fechei para a realidade com o passar do tempo, e tentei viver no outro, em curtos períodos de tempo, um amor que eu havia sonhado, era um amor meu, uma tela em branco que eu imprimia formas.
Os amores possíveis são assim, carregados de sombras de um amor que termina, talvez por isso chamem o primeiro amor de único, porque foi sua primeira experiência, os outros foram repetições do passado, de uma forma ou de outra.
O que nunca consegui entender é o porque os amores devem ser repetições do passado, porque os circulos tem sempre que se cumprir da mesma forma, e todos reclamarem das mesmas dores, e continuarem girando como em uma gaiola de ratinhos.
Nos julgamos tão espertos e evoluidos e teimamos em cometer mutilações a todo instante, com nosso próprio companheiro, alguém que compartilha conosco a mesma estrada, aquela velha história de que animais andam em bandos e homens se matam aos bandos!
Tenho mesmo um medo sobrehumano de relacionamentos, porque não encaro ele como algo que foi feito pra terminar, algo pra me doer, mas meu medo vem de antes, vem de uma dor antiga selada em um beijo de traição.
Agora me pego pronta a iniciar algo novo de novo, mas tão cheia de dedos, e todos os dias escuto somente histórias tristes de amores mal acabados de dores mal colocadas, e me pego querendo acreditar em um amor que começa, mas triste por temer se ele acredita, como todo mundo, que o amor também termina!

O amor nos tempos do cólera!



Florentino Ariza estremeceu: com efeito, e ela própria dissera, tinha o cheiro azedo da idade. No entanto, enquanto andava para seu camarote, abrindo caminho entre o labirinto de redes adormecidas, consolava-se com a idéia de que ele devia ter o mesmo cheiro, só que quatro anos mais velho, e que ela sem dúvida o sentira com a mesma emoção. Era o cheiro dos fermentos humanos, que ele percebera nas amantes mais antigas, e que elas tinham sentido nele. A viúva de Nazaret, que não guardava nada para si, tinha dito a ele de modo mais cru: "Já temos cheiro de urubu." Cada um suportava o cheiro do outro, porque estavam à mão: meu cheiro contra o seu....
...O importante era que pela primeira vez desde aquela tarde em que tia Escolástica deixara o livro de missa no balcão do telégrafo, Florentino Ariza não tornara a sentir uma felicidade como a dessa noite: tão intensa que lhe causava medo...
...
Florentino Ariza tinha lido certa vez: "O amor se torna maior e mais nobre na calamidade."
...Era como se tivessem saltado o árduo calvário da vida conjugai, e tivessem ido sem rodeios ao grão do amor. Deixavam passar o tempo como dois velhos esposos escaldados pela vida, para lá das armadilhas da paixão, para lá das troças brutais das ilusões e das miragens dos desenganos: para lá do amor. Pois tinham vivido juntos o suficiente para perceber que o amor era o amor em qualquer tempo e em qualquer parte, mas tanto mais denso ficava quanto mais perto da morte.
...- e até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? perguntou.
Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e tres anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.
- Toda a vida. Disse.