domingo, 31 de março de 2013



Livro do Desassossego n. 10

"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados".

Fernando Pessoa

Escolha

"A caça tem vários ângulos de escape, por isso quero morrer caça".

O que ela tinha de melhor? EU

"Quando o ser humano quer desgraçadamente conquistar alguma coisa, ele perde a linhagem do certo e errado"

Cantada

'Se você tivesse a manha do bigode, poderia andar de quatro'

Poesia

O mal de quem tem alma de poesia é estar condenado a viver em um mundo que jamais será o seu.