sábado, 16 de agosto de 2014

E nessa onda de bola que rina com cola e escola?
Quem sobe, quem pede esmola?!
Quem ganha quem fica na estoria?
Quem conta e se deteriora?
Quem eh voce, quem e o agora?
O amanha nao se demora a rima éfraca a vida é na hora
Futuro baby se ajoelha, mas nao implora! 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

Ao tempo. Em tempo...

Aqueles efeitos do tempo que costumam ser implacáveis têm suas aparências. Cabelos brancos, rostinho caindo, barriga crescendo peito caindo, bunda murcha e a pele enrugando, parecem menores quando se enxerga a alma.
A elasticidade de se encolher com o medo da mediocridade, em um periodo em que nos enxergamos mediocres diante do que poderiamos ser e do que de fato nos tornamos. Ao mesmo tempo em que sentimos a grandeza de nos enxergar autores de nossa história.
Essa briga que o tempo impõe e nos faz perder a conta de quantos anos estamos pendurados na corda bamba da essência.
Variar entre o perdao e a culpa, a posse e o desapego, grande e pequeno, quente e frio, vai dando um nó na estrada. A mesma estrada que o relogio insiste em nao parar sua impiedade de roubar o tempo para apagar e reconstruir.
É assim essa empresa chamada vida.Nao tem espaço pra usar a borracha. No máximo, risca com a caneta e continua rabiscando pra ver onde vai dar.
O universo trouxe na palavra memória, a dor maior do que foi ruim, mas a incrível regeneração de resgatar com um carinho quase infantil, aquilo que insistimos em não apagar.
Conforme a convêniencia do momento tiramos o passado da lixeira e transformamos em romance ou pesadelo o que queremos.
Pensa que não? Olha sua cintura de pilão, feia agora mas tao linda no passado...Agora revire o baú e pense na sua cabeça quando tinha aquela cintura. Sim, ela sempre foi de pilão.
Pense então, em quem voce odiou um dia e, antes eram amigos. Olhe a foto novamente e sinta a ternura brotar em seu coração.
Essa eterna ironia da gravidade e dos acontecimentos em nos mostrar que tudo é sempre irrelevante, mas inflizmente, são os rompantes que te tornam cada dia mais equilibrado pra perceber que o tempo é nada além de um amigo pra te mostrar que tudo vai ficar bem.

sábado, 31 de maio de 2014

Quando algo morre em nos, vai um pouco de nos.
Tanta coisa morreu em mim, que ja nao sobrou mais nada...

domingo, 18 de maio de 2014

Queria conseguir zerar a maquina e comecar a sentir coisas novas. 
Queria parar de fumar e parar de colocar pra dentro um pouco da morte de todo dia.
Mostrar uma uma mulher diferente, que nao esta ressentida, dura e cheia de sarcasmo.
Acredite, aqui dentro mora outra pessoa que esta doida pra sair, mas que espera o momento e, ele nunca vem...

domingo, 11 de maio de 2014

As vezes dói tanto que nem sei...
Partir querendo ficar, parece minha sina. Ja parti tantas vezes.
O que se há de fazer? Contra o desamor, não há amor que dê jeito.
Talvez essa historia nao tenha sido feita pra acontecer. Talvez... =\

domingo, 4 de maio de 2014

Como um sonho

Sonhos tem cheiro, tijolo e vento, prisão e asas.
É fuga, alicerce, esperança e a dor mais profunda.
Profano, molhado, suado, ajustado e nunca emoldurado.
Momentos, cicatrizes, sons e finalmente despertar.
Estão contidos e contém, afastam, ajeitam e desregulam rotas, vidas.
No escuro de seus olhos são certeza, abismo, escada, raio e um cavalo alado.
Um infinito que não cabe aqui, agora, na língua, na mão ou razão.
Minha impossibilidade de realizar os desejos, é. Como um sonho...

terça-feira, 11 de março de 2014

Na estante

Se fosse um objeto, seria uma cômoda, com várias gavetas.
Meus sentimentos seriam as roupas, mas aquelas que ficam no fundo.
Um dia polainas coloridas foram bonitas, calcinhas furadas ou de renda, bustiê, camisas de algodao linho e seda também. No entanto, meus sentimentos estao sempre em desalinho com a moda.
Ja nao reclamo mais, vou vivendo ali, me mostrando. Quando querem uma calcinha, abrem a gaveta das meias, encontram tudo menos a calcinha, engraçado.
Fecham a gaveta, abrem a de camisolas, mas nunca a de calcinhas, quando finalmente se cansam, fecham a gaveta e saem sem calcinha, ou pegam a que aperta, quando queriam a larguinha de algodão.
Quando e a hora da faxina, sou a primeira que se desfazem, serviria na proxima estaçao, mas naquela e hora de doar pra caridade.
Fica ainda mais engraçado, quando voltam pra resgatar a moda, quando finalmente entendem a comoda como meu corpo e as roupas como meu sentimento.
Nessa hora ja nao sou mais moda, sou passaro, voei pra outros ninhos, voei e sou livre pra ser comoda, asa ou lantejoula.

Amor incondicional

"Eu sempre achei que o amor,
Que o grande amor, fosse incondicinal.
Que quando duas pessoas se encontram, que quando esse grande encontro acontece, você pode trair, brochar, dar todas as porradas, se for um grande o amor, ele voltará triunfal.
Sempre!
Mas não, nenhum amor é incondicional.
Então acreditar na incondicionalidade do amor, é decididamente precipitar o fim do amor, porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo, e um amor não aguenta tudo, nada nesse vida é assim!
E aí você fala que esse amor não tem fim, para que o fim então comece.
Um grande amor não é possível,
talvez por isso seja grande.
Então, assim, nele, obrigatoriamente, pode caber também o impossível.
Mas quem acredita?
Quem acredita no impossível, que não apaixonadamente?
Como a um deus, incondicionalmente."

Michel Melamed

quarta-feira, 5 de março de 2014

Desejo

Algumas vezes é frustrante ver o quanto seu desejo cohabita os mesmos verbos que circulam entre todos.
Hoje admito ter em mim os mesmos sonhos do mundo, sinto com o mesmo peso a indelicadeza frustrante da realidade e, mais ainda me diminuo em mil partes de mim ao saber que lá fora, mesmo sendo igual a mim, alguns sabem melhor mostrar quem realmente são.
Desejar ser especial e se ver exatamente como um ser humano qualquer, ainda mais atrapalhado que muitos, é muito duro, especialmente em dias de chuva...

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Se o seu cotovelo dói

Recalque, sentimento presente nas mais diversas etnias, idades e gêneros. Sentimento comum desse mundo moderno desencontrado, onde todos buscam a mesma coisa, ao mesmo tempo, em outras pessoas que estão no lado oposto daquilo que você está buscando.
Outro dia li um texto que falava sobre o cara que não está apaixonado por você, não é porque ele está em um momento ruim, ou qualquer coisa, mas é só que ele não quer mesmo. Ri sozinha, porque naqueles dias eu vi uma infinidade de meninas no meu face, colocando indiretas, postando coisas que piscavam em neon: "dor de cotovelo" e os caras também. Naquele dia estava todo mundo sentimental, inclusive eu. Sim, pasmem, eu tenho momentos sentimentais.
O fato é que quando a rejeição bate a sua porta e joga aquela água de chuva de um carro que passa na poça, bem na sua cara, dá uma vontade louca de ser mau, de maldizer a humanidade. O pior, em específico nos relacionamentos, quando aquela pessoa que você quer, conhece outras gatas ou gatos e aparentemente segue a vida mais no caminho certo sem você e, a pessoa que ele (a) encontrou, (no face), parece bem mais feliz, contente e bonito (a), que suas fotos velhas surradas, ai sim o seu espírito de ódio toma conta.
Isso gera outro momento socio cultural engraçado, o momento das indiretas contra quem vomita arco íris (provavelmente você vomita, mas tá puto porque a outra pessoa que vomita, foi escolhida e você não) e, aquelas frases "só tem santo no face" ou "bonzinho no face e fdp na vida real". 
Confesso que me divirto, as vezes, na minha timeline. Aprendo muito sobre o desencanto e o modo como estamos todos buscando algo no lugar errado. Sim, gente! Quem ele ou ela escolher, será diferente, parecido, ou até igual a você, no entanto, por trás disto tem a química, o feeling e a paixão, o que não rolou entre vocês, sem contar que se esquecem do fato de que lá o povo mente meu povo!
Não chore, isso acontece no trabalho, com os amigos, com seu gato de estimação que gosta mais do vizinho que da sua companhia, mas não se sinta rejeitado, aprenda que nesse mundo, o espaço é para todos, seu lugar está buscando seus passos, enquanto você está cuspindo na testa, no xororo eterno dos mal encontrados. Não existe rejeição, existe pesquisa mal feita.
Atenção ao fato de, que mesmo procurando pessoas que se afinem com tudo ou quase tudo aquilo que você diz, pensa ou age, ainda existe a probabilidade de se sentir rejeitado, faltou a faísca. E, se faltou faísca filho, corre que é cilada, tu vai postar no face alguma coisa que vai todo mundo olhar e pensar: "Ih, tá dolorido", ai não tem mais jeito. Postou, o povo viu e só não curtiu porque tava com preguiça.
Vamos parar de dor de cotovelo ostentação, nem digo parar de opinar porque é isso que fazemos vinte e quatro horas por dia, seria o mesmo que dizer "morra", mas assim, por um mundo com mais "estou com dor de cotovelo" e menos indiretas.
Se de tudo isso, for inútil escrever aqui, pense por um segundo em continuar sua vida sem olhar para os lados, siga publicando o que te faz feliz, viva sua vida no trabalho e ignore o coleguinha invejoso, ele não vai deixar de ser porque te incomoda, foca na vida, é o seu tempo que está passando. Não sei você, mas hoje me olhei no espelho e vi que o bagulho cai mesmo, então construa suas estórias pra contar lá na frente, pare de ser um amontoado de situações mal curadas.
Eu juro, apesar de tudo cair, tenho colecionados boas risadas da minha vida, é uma pena que não sei contar, mas se contasse, você compartilharia no face, ou me rejeitaria?
=)



terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Na folha de papel, ela desenha um sol


Até agora, paro e penso sempre que opinar é fácil, difícil mesmo é com cinco ou seis retas fazer um castelo. Toquinho podia ter deixado as ilusões pra Disney, mas deu um nó em muita gente quando fez uma música tão perfeita que começamos a desejar a liberdade da criação somada ao indizível da realização.
Eu desenho um sol amarelo, mas quando saio na rua, Goiânia me queima com 42 graus e, se não tiver levado o guarda sol, não há papel que dê jeito em fazer um. Ironias a parte, sentir a música e levá-la na realidade requer uma dose cavalar de determinação diária.
 Falo assim porque desde que me entendo por gente, sem CPF mesmo, mas habitando este mundo, ouço música e sonho com um amor do Vinícius de Moraes, (quem nunca), mas esse amor ai parece que fica sempre no papel, não porque não apareçam pessoas, também, mas não por isso, mais ainda pela minha incapacidade em sentir algo assim (assunto batido, mas que muda um pouco agora).
Fato é que hoje recebi um convite para escrever uma coluna sobre decoração para uma revista com uma pegada moderna e cheia de cor, como eu sempre quis. Então vi meu corpo remexer, revirar e sacudir tinha ritmo na excitação, era o amor. Amor em participar de algo que acredito, em me expressar e ser convidada, era por hora, ter um desejo reconhecido e realizado.
Talvez esse sentimento exista em vários níveis, mas esse de hoje eu não quero mais abrir mão. Como é incrível reconhecer em você algo que inspira e move. Tem sido um presente acordar ultimamente, é como se finalmente meu caminho estivesse buscando os meus pés e não o contrário.
Enfim, cheia de coragem e de gás, as etapas tem se apresentado de forma mais leve, aprendendo a deixar ir embora aquilo que não pode fazer parte das conquistas, conquistando sozinha, sonhando sim em dividir isso com alguém, mas ao mesmo tempo sentindo gratidão por dividir com quem quer estar aqui.

Terminando como comecei “nessa estrada não nos cabe conhecer e ver o que virá”, mas enquanto isso, sentir esse momento e enxergar na realidade os instantes em que ele de fato colore nossa vida, mesmo que depois perca a cor, me faz abraçar aquela música que ouvi quando criança e acreditar, finalmente, que talvez eu possa viver a canção que sonhei pra mim.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Elusive- Lianne La Havas

He's a gambler spinning wheels
A poison victim but look of steel
The coldest hearts you've ever felt
The coldest hands you've ever held

Taking down on his way
A million miles, still no headway
As i learn to live long
In his mind i'm proud to roam
He's elusive and i'm awake
You're finally real, there's nothing fake
A mystery now to me and you
Open my eyes and i'm next to you
He says my destiny lies in the hands that set me free

Reckless night, he hears me breathe
Cursing the sky at this company
You've lost the wisdom deep inside
When bitterness shows its side

If it's true, i am doomed
What more is there to hold on to?
A strand of her hair is all i own
A gift to me, this sorry soul

He's elusive and i'm awake
They're finally real, there's nothing fake
A mystery now to me and you
Open my eyes and i'm next to you
He says my destiny lies in the hands that set me free

He's elusive and i'm awake
They're finally real, there's nothing fake
A mystery now to me and you
Open my eyes and i'm next to you
He says my destiny lies in the hands that set me free

A mystery now to me and you
Open my eyes and i'm next to you
He says my destiny lies in the hands that set me free

domingo, 26 de janeiro de 2014

O poder das mães

Quem procurar sempre errar na vida, me conte como é. Nunca conheci quem acordasse e dissesse "hoje vou errar e dar meu melhor pra isto" e, ao contrário, o oposto é onde repousa a vontade de todo ser humano, dentro de cada um mora uma vontade de ser o melhor, mais legal, o coração, enfim, foi feito de casa pro vermelho, que é bom, acolhedor, portanto ali contém o que é belo, mesmo quando escondido.
Qual não foi minha surpresa em descobrir o que determina a correção da rota entre o que é belo e o que estraga, nasce no medo, esbarra na ansia e morre na escolha entre sentir, agir e pensar.
Hoje ouvi minha mãe dizer: "o mundo não é um jogo, sua sanha de vitória tem que parar, isso ainda vai te derrubar, é exatamente o que te iguala a tudo aquilo que despreza, mas quando começa, parece um trem descarrilhado, você não pára. Conquistar pra você é fácil, esse jogo nasceu sabendo, o que ainda não aprendeu foi manter". Ah, essas mães, sabem sempre te devolver para o mundo, quando o freio estraga e você voa na loucura.
Como é bonito perceber a doçura com que essas velhas trazem sua vida real de volta, como esse laço de almas entregam o dom a elas de te conhecerem, sem máscara, elas enxergam o lado mau, mas ainda assim, consertam tudo com uma sensibilidade difícil de descrever.
Aprender todos os dias a amá-la, tem sido meu exercício constante, o que antes entendia como dor, hoje percebo o quão grande foi a oportunidade em tê-la como mãe, a generosidade do universo em me entregar alguém em quem pudesse querer ser melhor, aprender a cada minuto em como retomar as rédeas do meu erro, aprendi a me desculpar, tenho finalmente aprendido a me abrir pro mundo, como sou, sem jogo, talvez isso seja apenas um bolo de letras, no entanto, só eu sei o quanto é complicado me abrir e, com ela ao meu lado, finalmente entendendo o seu amor, é que pude começar a mudar.
Sempre vi em você, minha querida, algo que era bom acima de tudo aquilo que nao concordava, também me expressei mal, afinal joguei muito e senti pouco em relação a nós duas, mas há algum tempo, quando me fecho aqui em casa, ao seu lado, entendo o quanto ainda falta aprender, mas acima de tudo a generosidade da vida em me presentear com tanta sabedoria.
Hoje tive medo de quando você partir, esse dia ainda vai chegar, mas vi o quanto ficarei perdida na sua ausência. Me ensina mãe querida, a andar por esta vida sem tropeçar tanto, continue me abraçando com suas palavras para que eu cresça, afinal, ainda falta tanto. Seu amor, é uma prece que faço a cada dia, que me expresso mal, é verdade, mas que meu coração repete baixinho, a gratidão em ter você ao meu lado.
Quando partir, desejo estar na sua alma, como uma lembrança boa, como uma pessoa que aqui na terra, se esforçou para aprender a ser melhor, graças ao seu exemplo. Lembra quando ensinamos juntas aquele moço a ler, o quanto nos emocionamos com a gratidão dele por nosso esforço, pois então, é o que senti hoje, quando me trouxe de volta pra aprender sobre uma parte importante da vida.
Você é meu poema, minha praia e minha alegria, é mais que mãe, é uma profissional da Terra, um PHD em desvendar o que quero dizer, até quando não digo. Obrigada, obrigada, obrigada, minha rosa, minha vida, minha velinha do poder.


domingo, 19 de janeiro de 2014

A Portadora de Rosas Vermelhas

Enquanto caminhava, olhava tudo ao redor e se incomodava com todo o barulho na cabeça e o silêncio no coração, não conseguia entender como todas aquelas pessoas no parque, sentadas com crianças, cachorro e família, falavam tão abertamente de sentimento, se tocavam e sorriam sinceramente e, ali, dentro do peito, um bolo surdo e oco, ocupava espaço de um órgão sem utilidade, entendia que o coração era nada além de um bombeador de sangue, sensação nada espirituosa pra uma tarde cheia de sol e sentimentos dos que passavam, um egoísmo que manchava a cena.
Quieta, tentava em vão tatear a grama, olhar o céu, puxar o ar, mas era tudo tão orgânico, que chorou, baixinho, aquele choro verde de inveja, escorreu o sal na boca, mas era sal, passava a língua e limpava tudo, uma lambida de pára brisa, nada por dizer ou fazer. Correu o dedo nos lábios, abriu a boca bem mansinho, de um jeito que só conseguia fazer quando estava ensimesmada, chegou nos dentes e lembrou de como seu sorriso era largo, uma expressão máxima da antítese de sua alma, ficou alguns instantes naquele movimento impiedoso, pra ver se doía ao menos, mas a dor também não queria aparecer, parou.
Em sua mão, pequena e tímida, tinha uma gota de sangue teimosa, imóvel, gorda e vermelha que a fazia lembrar que vivia, mas não sentia, olhou para o lado, ainda incomodada com a cabeça barulhenta e viu uma rosa, branca, sempre a rosa branca, nunca vermelha, andou até lá bem perto pra tocar, roubar pra si a beleza daquela solidão, a paz do silêncio, impressão injusta sobre a flor, queria sentir raiva, mas nem isso saia do peito, sentou e continuou olhando, a mente então voou.
Sem esforço, sem espasmos, olhou a flor, o parque em volta e não via ninguém, estava imersa em outro mundo, paralisada na lembrança do gozo, gozar com alguém, sensação nova e tão assustadora, inexplorada e cheia de culpa, uma culpa que também não sabia dizer de onde vinha, tremia e ria, desejava de novo aquele momento, como uma criança que quer bolo quente, vai queimar, passar mal, comia escondido, mas queria mais, parada por algum tempo pensou, pensou e viajou ainda mais em sua imaginação. Ganhava asas.
Suas asas tinham cor da noite, pegaram o caminho errado, a levaram pra um tempo que teimava em voltar, mesmo ela suplicando por esquecer, um tempo de mentiras, era um mar, as ondas vinham fortes, como no fim do dia, batiam em seu rosto, pra marcar, era hora de enfrentar, profanou o amor tantas vezes, usou essa palavra santa em vão, como se nada fosse, proferiu tantas vezes, pra tantas pessoas, que corou, corou em pensar na maneira vil e indelicada de entregar seu corpo, como uma mala, um alforje pesado e antigo, sem qualquer serventia, se não carregar mentiras, a mentira era um presente, vingança por não sentir, entendia que era uma maneira branca de provocar no outro, a mesma raiva que o vazio lhe causava.
Aquele momento foi tão longo e penoso, mas necessário, não dava mais pra fugir de si mesma, do que tinha causado ao longo do caminho, enquanto acreditava ser apenas vítima, talvez seus amores não tenham descoberto, mas nunca foram até seu peito, paravam na cabeça e ali viravam peças de um imenso e interminável Xadrez, um xadrez de uma rainha, sem reis, sua estranha mania de se vilanizar em público, mesmo sem a audiência entender, fazer o quê, era hora de continuar seguindo, parou, olhou para o lado e viu que a rosa ainda era branca. Quanta decepção.
Seu cérebro, aquela maquina louca, cheia de peças quebradas, era uma antena, recebia o recado e retransmitia a mensagem conforme a conveniência, trançava as letras em uma dança livre, alegre, sentimental, triste conforme a próxima peça do tabuleiro fosse jogar, no entanto, as ondas em vão tentavam sair da cabeça e chegar ao coração, que luta inglória, que expedição improdutiva.
De repente foi tomada por outra história, essa sim lhe metia medo, havia feito uma promessa, não mentiria nunca mais, esta sem dúvida havia sido sua pior jura. Lembrou que conheceu alguém, achou engraçado lembrar e não sentir, mas aceitou a lembrança, o peito doeu, dor, que dor era aquela?
A garganta seca, boca seca, mão gelada, branca como a rosa, desconcertada como quando gozou, imóvel, em vão, tentou se levantar, não tinha respostas ainda, tampouco movimento, permaneceu tentando entender o que era aquilo que estava ali, fazendo o coração disparar. Novamente uma lágrima. Era molhada, quente, pesada e suave na essência, caiu o peão, o bispo, a torre, a rainha em xeque, conseguiu apenas dizer antes de mais nada: carinho.
Seu primeiro sentimento, o carinho, por aquele cavaleiro, Dom Quixote, tão perdido quanto ela, em sua loucura ou ingenuidade a fez dizer a verdade: "Eu não sinto", aquela lembrança do que disse, a tomava de tal maneira que apertou a rosa, apertou com tanta força, tão cega e assustada que a gota gorda de sangue pintou a flor.
Nesse exato momento ela voltou os olhos para a realidade, viu as pessoas no parque, sua mente calou, olhou a rosa com carinho e disse com o coração quase gritando: "Finalmente a rosa vermelha, sou a portadora da rosa vermelha!"
Se levantou devagar, faltava o ar ainda, se levantou sacudiu a roupa e sentiu, que na vida carinho valia mais que amor, essa palavra já estava gasta por demais, velha por demais, enquanto que a outra, essa fazia sentido, fazia sentimento, essa ocupou o primeiro lugar em seu coração, o lugar que nenhuma outra palavra antes se atreveu.
Sentir era lindo, era quente e macio, sorriu, o sol iluminou a rosa e a portadora de rosas vermelhas, assim ela se despediu do parque, assim ela começou a viver.