terça-feira, 11 de março de 2014

Na estante

Se fosse um objeto, seria uma cômoda, com várias gavetas.
Meus sentimentos seriam as roupas, mas aquelas que ficam no fundo.
Um dia polainas coloridas foram bonitas, calcinhas furadas ou de renda, bustiê, camisas de algodao linho e seda também. No entanto, meus sentimentos estao sempre em desalinho com a moda.
Ja nao reclamo mais, vou vivendo ali, me mostrando. Quando querem uma calcinha, abrem a gaveta das meias, encontram tudo menos a calcinha, engraçado.
Fecham a gaveta, abrem a de camisolas, mas nunca a de calcinhas, quando finalmente se cansam, fecham a gaveta e saem sem calcinha, ou pegam a que aperta, quando queriam a larguinha de algodão.
Quando e a hora da faxina, sou a primeira que se desfazem, serviria na proxima estaçao, mas naquela e hora de doar pra caridade.
Fica ainda mais engraçado, quando voltam pra resgatar a moda, quando finalmente entendem a comoda como meu corpo e as roupas como meu sentimento.
Nessa hora ja nao sou mais moda, sou passaro, voei pra outros ninhos, voei e sou livre pra ser comoda, asa ou lantejoula.

Amor incondicional

"Eu sempre achei que o amor,
Que o grande amor, fosse incondicinal.
Que quando duas pessoas se encontram, que quando esse grande encontro acontece, você pode trair, brochar, dar todas as porradas, se for um grande o amor, ele voltará triunfal.
Sempre!
Mas não, nenhum amor é incondicional.
Então acreditar na incondicionalidade do amor, é decididamente precipitar o fim do amor, porque você acha que esse amor aguenta tudo, então de um jeito ou de outro você acaba fazendo esse amor passar por tudo, e um amor não aguenta tudo, nada nesse vida é assim!
E aí você fala que esse amor não tem fim, para que o fim então comece.
Um grande amor não é possível,
talvez por isso seja grande.
Então, assim, nele, obrigatoriamente, pode caber também o impossível.
Mas quem acredita?
Quem acredita no impossível, que não apaixonadamente?
Como a um deus, incondicionalmente."

Michel Melamed