quarta-feira, 22 de maio de 2013

A fome

Me lembro bem de alguns anos atrás quando li "O artista da fome" do Kafka, foi um murro no estômago.
Vivendo agora um abismo emocional que tenho cultivado há anos nessa busca tão sem ineditismo em meio a de todos no mundo, me pergunto sempre porque não há paz e me lembro de uma teoria que tinha quando criança apelidada anos depois de teoria da proximidade, onde tudo deveria ser o mais próximo, o trabalho deveria ser mais próximo de casa, assim não brigaríamos pela passagem do ônibus, ou a má qualidade, as pessoas com idéias mais próximas deveriam conviver, assim ninguém precisaria se magoar ou chorar e assim vai, uma infinidade de coisas próximas que talvez caíssem em um imenso mar de comodismo, mas partindo sempre do princípio de que a briga dói mais que a paz.
Hoje ainda me pego pensando em sendo observadora do artista da fome, me vejo exatamente no mesmo lugar, eu ficaria calada, sentaria ali pra observá-lo depois partiria, talvez voltasse mais vezes e quem sabe talvez perguntaria qual era o objetivo dele, não para emitir opinião, apenas para entender e me prestaria ao papel que ele desejasse, escrevo isso e me dá vontade de chorar, porque é muito simples agredi-lo, ou me vestir de gostosa para ajudá-lo a sair da jaula a cada 40 dias, ou vender souvenir do artista da fome, é muito simples interferir na vida dele sem qualquer objetivo, mas é inconcebível apenas entender que ele nunca conseguiu encontrar nada para comer que gostasse e permanecer com o cérebro vazio.
Entendo não gostar de nada pra comer, entendo ser gostosa, assaltante, padre, eu entendo tudo isso, mas não assimilo a opinião. É sobrehumano compreender como alguém tenta imprimir a própria vivência na vida do outro, supondo o que deva ser o correto. O seu correto, não é o meu e pronto. Aperta minha mão aqui e vamos em frente, em silêncio, sem precisar agredir, julgar, opinar, nem fingir que não estamos fazendo nada disso, porque se você ouvisse o que sai da sua boca nessa hora, entenderia que está julgando, opinando ou tentando interferir.
Sempre achei que o brasileiro tivesse jeito pra tudo, aprendemos uma nova modalidade, o jeito pra reclamar, todo mundo reclamando, mas mudando muito pouco. O mundo sofre de misantropia, sofre de estrangulamento da personalidade, sofre, mas alguns ainda conseguem aparentemente dar voz aquilo que querem e seguir em frente, mesmo sentindo solidão.
Eu sofro de cansaço, de encolhimento, sofro de uma doença chamada opressão, fui uma esponja de opiniões desde que nasci, absorvi todas elas, boas e ruins, hoje peso mil quilos e não sei qual opinião me desfazer primeiro, porque todas elas foram importantes para alguém despejá-las em mim, sou uma artista da gula, comi tudo aquilo que quiseram me dar, mas qual é a minha opinião?
Não ouso derramá-las em vocês, afinal, tudo é importante de mais para derramar assim...

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ta faltando silêncio

Outro dia me deparei com a enxurrada de notícias sobre o tão esperado evento que se deu em nossa capital, o show de Sir Paul. 987 milhões de textos falando sobre a vinda do carinha lá de Londres.
Pois bem, minha humilde e tosca opinião é que falta silêncio, falta também novidade, essa enxurada de opiniões que as pessoas insistem em desabar todos os dias sobre nossas cabeças, dividem o mundo em dois grupos pra lá de monótonos: os do que concordam e os que discordam.
O grupo dos que discordam é normalmente meu alvo de atenção, formado por jovens com tendências pseudo intelectuais, gostam de estampar a panca de inédito, erudito e, para mim, esse é o grupo dos alienados muitas vezes, pois pensam que estão mudando o mundo através da força reacionária, mesmo que não exista força alguma.
Aquele outro grupo por sua vez, estampa uma corrente de camisa engomada e, quase sempre com argumentos progressistas, que revelam na verdade, um interior materialista e ansioso por populacho, mas quase sempre tem dentes brancos e cabelo penteado, com um sorrisinho de vitória, o que os leva a pensar que tem assento garantido no paraíso também.
A realidade é que essa necessidade de se tornar inédito em ambos os lados, nessa eterna briga por descordar acaba quase sempre empobrecendo o argumento, a essência fica manchada de palavras, verborragia mesmo, sem qualquer objetivo maior que não seja o de convencer.
Estar certo é o verbo do momento, a violência contra a mulher, a mulher que não se posiciona, o pastor que não aceita os gays, os caras que não aceitam o pastor, o ator que beija a amante, que beija o marido, que come a cabra do vizinho, enfim, são tantas opiniões, mas pouco silêncio.
Talvez por isso a comédia tenha ganhado cada vez mais adeptos, uma realidade aumentada, de um cotidiano massacrado pelo excesso, só poderia se contentar mesmo, com o excesso estampado na hora da alegria, mas ainda assim, até agora muito barulho e muito jogo de cabo de força.
O resultado, uma sociedade exausta e ensimesmada, buscando cada um trazer para seu lado o maior número de adeptos daquilo que acredita ser a verdade, exatamente como eu neste momento.
Meu desejo, mais silêncio moçada, observação leva a perfeição e talvez ela esteja no meio termo, ser xiita vinte e quatro horas por dia, cansa, encana e deprime, as vezes em cima do muro, podemos descansar tranquilos.

sábado, 11 de maio de 2013

Preciso de ar, de espaço aberto, soltar esse grito...
Deixar esse monstro partir, antes que ele me parta
Essa alma que não me deixa viver, sentir
Alimentei esse animal tantos anos
Mas agora preciso matá-lo
Façam silêncio e então ele poderá dormir
Nessa hora eu,sorrateira, arrancarei a lepra
E uma rosa vai se abrir no céu.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Piada de um medico sovina

O paciente foi ao médico e desenganado recebeu três meses de vida.
Após três meses e, sem morrer, voltou ao médico e recebeu mais três meses.

Autor: Medo e Demencia

terça-feira, 7 de maio de 2013

Musa




Síntese

-Sua boca cheira a cemitério, eu sei que é porque você não come. Ele disse
-Eu sei, deve ser o cheiro da minha alma que morre quando está ao seu lado. Ela pensou.

A futilidade ou a vaidade?

Então eu me pergunto...
Vale mais um sofá de qualquer merda de lugar que eu escolher ou ter a brilhante idéia de fazer um filho em outra pessoa?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Síndico

A arte é maior que qualquer comportamento!


Rabiscando a persona

Esse texto foi escrito a pedido da Psicanalista Anna Oliveira para uma curadoria do filme de Bergman, Persona.
As impressões são pessoais e baseadas também em inúmeras entrevistas que assisti do próprio autor.

 Bergman por definição é sempre brilhante por simplicidade, me explico, o artista é aquele que consegue causar reflexão, no entanto, faz isso de forma sempre despretensiosa, autobiográfica e por isso apaixonante e desmistificada, desnuda do desejo de comover, deixa para os atores essa pretensão, ele enquanto artista, apenas se mostra.
Sempre tive um amor cativo por Bergman, sua genialidade prende, mas nunca havia visto nada da pessoa dele, a tranquilidade que demonstra, se contrapõe com aquilo que materializa, tem desejo por chuvas de verão intermináveis e obsessão por horários rígidos, oscilava quando criança entre a realidade e o sonho e, misturar tudo o isso o tornou inquietantemente acessível.
Persona é vivência do autor, aquilo que o habita, desvelando de forma magistral o que está contido em nós, em alguns momentos nossa histeria, como a de Alma, em tantos outros a paz como a de Elizabeth Vogler, costuradas de forma brilhante e cheias de pontas a serem puxadas, tal qual as sinapses.
Alma e Elizabeth somos nós, divididas apenas para se tornar visível ambos os lados da nossa personalidade, aquelas são os múltiplos ângulos do próprio autor, tentando ser transparente, acalmando nossas questões, incitando a pensar sobre nossas polaridades de maneira natural, quase afirmando que a histeria nos habita tal qual a paz.
Vogler silencia por renúncia a violência que considera ser a vida em sociedade, tal ponto fica claro quando se mostram as cenas reais do monge budista queimando vivo, ou da criança na segunda guerra mundial, ou ao final quando descobrimos sua inabilidade a maternidade, traço reprovável em sociedade, mas absolutamente possível.
No entanto, escolher uma vida silente, abnegada de convívio, trouxe paz, uma paz para tantos tão misteriosa que, seria possível uma tese de mestrado, na minha humilde opinião era apenas o seu nirvana, sendo desnecessária qualquer análise.
Em contrapartida, nossa histeria, Alma despe sem pudores o seu lado sombrio, seus medos e inseguranças, um desejo quase infantil como o que revela por trás do discurso projetado sobre Vogler, quando lê a carta, quando se vinga deixando o caco de vidro no chão, ou quando briga de forma descontrolada por não ter sua vontade saciada.
Quando nos olhamos por esse prisma, sentimos conforto, a humanidade é assim, infinita, um livro de questões intermináveis, algumas vezes é preciso silêncio para acalmar, outras tantas, uma boa dose de histeria para edificar, mas acima de tudo isso, ser capaz de empreender essa busca por si mesmo, sem perder a paixão, isto é arte, isto é o filme.
Para finalizar, termino com uma frase de Bergman em uma de suas entrevistas: “Eu nunca pedi que entendesse, pedi apenas que sentisse”