sexta-feira, 21 de junho de 2013

Em tempos de reflexão...


Me lembro há uns anos quando fui até o Paço Municipal levar um documento e subi no elevador com um cara que levava uma fatura pra protocolar, ele consertava cadeiras e, qual não foi minha surpresa em saber que uma reles cadeira com rodinhas custava mais de mil reais para ser reparada.
Anos depois trabalhando no mercado publicitário, novamente me assustei em ver o preço de uma campanha para o governo, em média sessenta por cento mais cara que uma campanha para o mercado privado.
Tudo isso me veio em mente quando uma pessoa que trabalha comigo tentava me convencer de não ir a manifestação e, hoje após o ato manifesto, veio me falar que foi uma micareta, não valeu a pena e não chegaremos a lugar nenhum com isto, a solução para ele concentra-se no voto.
Partindo da premissa de nossas diferenças, basicamente atendo-se ao assunto, não existiriam tantos partidos e tantas pessoas votando se não acreditassem em cada um deles, ou seja, como saber quem está certo ou errado quando o assunto é tão subjetivo?
Em outro viés, como esperar unidade em um protesto, onde basicamente concentram-se milhares de diferenças, baseadas apenas no cansaço da situação atual?
Respondo: Não há consenso, nossa corrupção é arraigada sobre cada pessoa, em maior ou menor grau, agências subsistem de campanhas superfaturadas, obras exorbitantes, cadeiras milionárias, pessoas que lucram com o dinheiro da população e que não se coçam pra mudar, ao contrário meu caro, aceitam e sorriem, com o saldo positivo de um projeto cheio de interesse.
Saindo rapidamente do cenário, olhando para o ser humano, dou um exemplo do almoço na empresa, hoje cozinhamos para doze pessoas, fritamos banana a rodo, para sobrar e comermos com açucar e canela, o resultado: cada um correu para garantir a maior parte, uns ficaram sem e aqueles que pegaram mais, não se mexeram para dividir, eu fui mais esperto, logo, tenho por direito a maior parte.
É visceral o interesse, o lucro, o ganha ganha no mercado, ou fora dele, o processo do "ao mais esperto a melhor parte" é nossa colonização, ou nossa educação, mas ele existe e coexistimos no sistema juntos disto.
Culpamos a política, por um comportamento social, mudar o Brasil, significa mudar o brasileiro, nosso cenário revolucionário é permeado de um pensamento basico de falta de auto crítica, adaptamos a ética ao nosso favor vinte e quatro horas por dia, respiramos o famoso jeitinho, culpamos os favores feitos e pedimos favores.
Acredito sim, que existem medidas imediatas para estancar a corrupção, mas defendo com garra que a tomada de consciência é a única maneira para superar de vez o processo corrosivo que experienciamos a todo momento.
Nosso cansaço extrapola a política, no entanto, pouco nos furtamos de provocar no outro, aquilo que nos incomoda em grande escala, que é o desrespeito, o egoísmo e a intolerância.
Esse chão verde e amarelo, tem vivido a era da misantropia, sem perceber que cada um tem feito sua parte como formigas, para que esse sentimento se enriqueça, a corrupção é em excesso, mas falta moral individual para que se possa olhar o outro de forma complacente e respeitosa.
Neste momento cautela é imperiosa, auto análise também, infelizmente não mudaremos uma nação, sem antes mudar primeiro os beneficiários dela.


sábado, 15 de junho de 2013

Mostra sua cara

As vezes acho nosso anti nacionalismo um tanto quanto exagerado.
Gostamos do Pais, não gostamos dos governentes, mas pouco fazemos para mudar as escolhas.
Depois de um tempo passamos a queimar la fora e aqui dentro nossa própria imagem. 
Qual o sentido portanto desse ciclo vicioso?

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Um conceito

Outro dia vi uma foto de uma menina com síndrome de down, um negro e um gordo lado a lado no facebook e na legenda dizia: "Se você não tem preconceito, compartilhe."
Sempre tive um conceito talvez um pouco avesso dos demais em relação a isso, penso que quando falamos em preconceito é aquilo que não gostamos, mesmo sem conhecer a fundo, aquela velha história do "pré-conceito", algo meio burro em minha opinião, mas que existe desde que o mundo é mundo e não vai mudar.
O fato de não mudar, me leva novamente aquela opinião pessoal de que existem dois grupos, os que concordam e os que discordam, os que são contra neste caso, agem exatamente com preconceito do preconceito, me explico.
Se existem pessoas diferentes, aliás é só isso que existe, diferenças, elas estão ai para serem parcimoniosamente aceitas, portanto, se não existe preconceito em você, basta apenas olhar tal foto e não enxergar diferença alguma, simples assim, seria então apenas mais uma foto, como de uma flor bonita, um por do sol, um casal homossexual ou as sete maravilhas do mundo.
A necessidade do ser humano de se encaixar e se posicionar em relação a tudo é extremamente cansativa, o que os move, uma infinidade de razões que não cabem ser relacionadas, até porque desconheço cada passo que impulsiona o indivíduo, mas sei bem o que não leva a canto algum.
Uma foto como esta, poderia chocar os preconceituosos, mas aos livre deste mal, deveria ser um clique, nada mais, sem necessidade de explicação ou qualquer coisa que o valha, mas a tal humanidade, tem que meter um "bedelinho" em tudo.
A sensação que tenho ao ver milhões de compartilhamentos, é o quanto ainda estamos longe de virtudes, como diria Sêneca em Da Tranquilidade da alma: "Tal como medicamentos que, embora não sejam ingeridos ou tocados, agem pelo odor, assim também é a virtude, que difunde sua utilidade à distância e de modo oculto".
Sinceramente ainda não há como fugir de nós mesmos, quem já leu Kafka em o artista da fome, sabe bem o que estou falando, a diferença oprime, incita nossa sede por algo fora do padrão, quando na verdade, é tão somente apenas mais um que poderia facilmente enxergar com a mesma surpresa a sua pretensa normalidade.
Sempre que reflito em algo assim, revive em mim a esperança de que o ser humano entenda que a guerra se faz ai, quando um simples e sincero aperto de mãos resolveria tudo, bastaria apenas colocar o ego de lado e seguir, sempre com a máxima auto crítica, ele é negro, ou gordo ou um bebê com down e você pra ele pode ser feio, burro, arrogante, nem por isso ele postou sua foto pra alguém curtir e compartilhar.
Aceitar os fatos e contribuir de forma positiva para uma evolução, uma foto compartilhada sem um raciocínio não muda os fatos, apenas engrossa o caldo de um mar de gente que ainda pensa pequeno e não sai do lugar, estamos na era da informação e alguns ainda esperam a caça às bruxas, seja pra queimar os diferentes, ou pra queimar aqueles que não aceitam a diferença.
Convergência meus amigos, essa é a tendência, aceitem e estreitem os laços das relações humanas.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

A fome

Me lembro bem de alguns anos atrás quando li "O artista da fome" do Kafka, foi um murro no estômago.
Vivendo agora um abismo emocional que tenho cultivado há anos nessa busca tão sem ineditismo em meio a de todos no mundo, me pergunto sempre porque não há paz e me lembro de uma teoria que tinha quando criança apelidada anos depois de teoria da proximidade, onde tudo deveria ser o mais próximo, o trabalho deveria ser mais próximo de casa, assim não brigaríamos pela passagem do ônibus, ou a má qualidade, as pessoas com idéias mais próximas deveriam conviver, assim ninguém precisaria se magoar ou chorar e assim vai, uma infinidade de coisas próximas que talvez caíssem em um imenso mar de comodismo, mas partindo sempre do princípio de que a briga dói mais que a paz.
Hoje ainda me pego pensando em sendo observadora do artista da fome, me vejo exatamente no mesmo lugar, eu ficaria calada, sentaria ali pra observá-lo depois partiria, talvez voltasse mais vezes e quem sabe talvez perguntaria qual era o objetivo dele, não para emitir opinião, apenas para entender e me prestaria ao papel que ele desejasse, escrevo isso e me dá vontade de chorar, porque é muito simples agredi-lo, ou me vestir de gostosa para ajudá-lo a sair da jaula a cada 40 dias, ou vender souvenir do artista da fome, é muito simples interferir na vida dele sem qualquer objetivo, mas é inconcebível apenas entender que ele nunca conseguiu encontrar nada para comer que gostasse e permanecer com o cérebro vazio.
Entendo não gostar de nada pra comer, entendo ser gostosa, assaltante, padre, eu entendo tudo isso, mas não assimilo a opinião. É sobrehumano compreender como alguém tenta imprimir a própria vivência na vida do outro, supondo o que deva ser o correto. O seu correto, não é o meu e pronto. Aperta minha mão aqui e vamos em frente, em silêncio, sem precisar agredir, julgar, opinar, nem fingir que não estamos fazendo nada disso, porque se você ouvisse o que sai da sua boca nessa hora, entenderia que está julgando, opinando ou tentando interferir.
Sempre achei que o brasileiro tivesse jeito pra tudo, aprendemos uma nova modalidade, o jeito pra reclamar, todo mundo reclamando, mas mudando muito pouco. O mundo sofre de misantropia, sofre de estrangulamento da personalidade, sofre, mas alguns ainda conseguem aparentemente dar voz aquilo que querem e seguir em frente, mesmo sentindo solidão.
Eu sofro de cansaço, de encolhimento, sofro de uma doença chamada opressão, fui uma esponja de opiniões desde que nasci, absorvi todas elas, boas e ruins, hoje peso mil quilos e não sei qual opinião me desfazer primeiro, porque todas elas foram importantes para alguém despejá-las em mim, sou uma artista da gula, comi tudo aquilo que quiseram me dar, mas qual é a minha opinião?
Não ouso derramá-las em vocês, afinal, tudo é importante de mais para derramar assim...

terça-feira, 14 de maio de 2013

Ta faltando silêncio

Outro dia me deparei com a enxurrada de notícias sobre o tão esperado evento que se deu em nossa capital, o show de Sir Paul. 987 milhões de textos falando sobre a vinda do carinha lá de Londres.
Pois bem, minha humilde e tosca opinião é que falta silêncio, falta também novidade, essa enxurada de opiniões que as pessoas insistem em desabar todos os dias sobre nossas cabeças, dividem o mundo em dois grupos pra lá de monótonos: os do que concordam e os que discordam.
O grupo dos que discordam é normalmente meu alvo de atenção, formado por jovens com tendências pseudo intelectuais, gostam de estampar a panca de inédito, erudito e, para mim, esse é o grupo dos alienados muitas vezes, pois pensam que estão mudando o mundo através da força reacionária, mesmo que não exista força alguma.
Aquele outro grupo por sua vez, estampa uma corrente de camisa engomada e, quase sempre com argumentos progressistas, que revelam na verdade, um interior materialista e ansioso por populacho, mas quase sempre tem dentes brancos e cabelo penteado, com um sorrisinho de vitória, o que os leva a pensar que tem assento garantido no paraíso também.
A realidade é que essa necessidade de se tornar inédito em ambos os lados, nessa eterna briga por descordar acaba quase sempre empobrecendo o argumento, a essência fica manchada de palavras, verborragia mesmo, sem qualquer objetivo maior que não seja o de convencer.
Estar certo é o verbo do momento, a violência contra a mulher, a mulher que não se posiciona, o pastor que não aceita os gays, os caras que não aceitam o pastor, o ator que beija a amante, que beija o marido, que come a cabra do vizinho, enfim, são tantas opiniões, mas pouco silêncio.
Talvez por isso a comédia tenha ganhado cada vez mais adeptos, uma realidade aumentada, de um cotidiano massacrado pelo excesso, só poderia se contentar mesmo, com o excesso estampado na hora da alegria, mas ainda assim, até agora muito barulho e muito jogo de cabo de força.
O resultado, uma sociedade exausta e ensimesmada, buscando cada um trazer para seu lado o maior número de adeptos daquilo que acredita ser a verdade, exatamente como eu neste momento.
Meu desejo, mais silêncio moçada, observação leva a perfeição e talvez ela esteja no meio termo, ser xiita vinte e quatro horas por dia, cansa, encana e deprime, as vezes em cima do muro, podemos descansar tranquilos.

sábado, 11 de maio de 2013

Preciso de ar, de espaço aberto, soltar esse grito...
Deixar esse monstro partir, antes que ele me parta
Essa alma que não me deixa viver, sentir
Alimentei esse animal tantos anos
Mas agora preciso matá-lo
Façam silêncio e então ele poderá dormir
Nessa hora eu,sorrateira, arrancarei a lepra
E uma rosa vai se abrir no céu.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

Piada de um medico sovina

O paciente foi ao médico e desenganado recebeu três meses de vida.
Após três meses e, sem morrer, voltou ao médico e recebeu mais três meses.

Autor: Medo e Demencia

terça-feira, 7 de maio de 2013

Musa




Síntese

-Sua boca cheira a cemitério, eu sei que é porque você não come. Ele disse
-Eu sei, deve ser o cheiro da minha alma que morre quando está ao seu lado. Ela pensou.

A futilidade ou a vaidade?

Então eu me pergunto...
Vale mais um sofá de qualquer merda de lugar que eu escolher ou ter a brilhante idéia de fazer um filho em outra pessoa?

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Síndico

A arte é maior que qualquer comportamento!


Rabiscando a persona

Esse texto foi escrito a pedido da Psicanalista Anna Oliveira para uma curadoria do filme de Bergman, Persona.
As impressões são pessoais e baseadas também em inúmeras entrevistas que assisti do próprio autor.

 Bergman por definição é sempre brilhante por simplicidade, me explico, o artista é aquele que consegue causar reflexão, no entanto, faz isso de forma sempre despretensiosa, autobiográfica e por isso apaixonante e desmistificada, desnuda do desejo de comover, deixa para os atores essa pretensão, ele enquanto artista, apenas se mostra.
Sempre tive um amor cativo por Bergman, sua genialidade prende, mas nunca havia visto nada da pessoa dele, a tranquilidade que demonstra, se contrapõe com aquilo que materializa, tem desejo por chuvas de verão intermináveis e obsessão por horários rígidos, oscilava quando criança entre a realidade e o sonho e, misturar tudo o isso o tornou inquietantemente acessível.
Persona é vivência do autor, aquilo que o habita, desvelando de forma magistral o que está contido em nós, em alguns momentos nossa histeria, como a de Alma, em tantos outros a paz como a de Elizabeth Vogler, costuradas de forma brilhante e cheias de pontas a serem puxadas, tal qual as sinapses.
Alma e Elizabeth somos nós, divididas apenas para se tornar visível ambos os lados da nossa personalidade, aquelas são os múltiplos ângulos do próprio autor, tentando ser transparente, acalmando nossas questões, incitando a pensar sobre nossas polaridades de maneira natural, quase afirmando que a histeria nos habita tal qual a paz.
Vogler silencia por renúncia a violência que considera ser a vida em sociedade, tal ponto fica claro quando se mostram as cenas reais do monge budista queimando vivo, ou da criança na segunda guerra mundial, ou ao final quando descobrimos sua inabilidade a maternidade, traço reprovável em sociedade, mas absolutamente possível.
No entanto, escolher uma vida silente, abnegada de convívio, trouxe paz, uma paz para tantos tão misteriosa que, seria possível uma tese de mestrado, na minha humilde opinião era apenas o seu nirvana, sendo desnecessária qualquer análise.
Em contrapartida, nossa histeria, Alma despe sem pudores o seu lado sombrio, seus medos e inseguranças, um desejo quase infantil como o que revela por trás do discurso projetado sobre Vogler, quando lê a carta, quando se vinga deixando o caco de vidro no chão, ou quando briga de forma descontrolada por não ter sua vontade saciada.
Quando nos olhamos por esse prisma, sentimos conforto, a humanidade é assim, infinita, um livro de questões intermináveis, algumas vezes é preciso silêncio para acalmar, outras tantas, uma boa dose de histeria para edificar, mas acima de tudo isso, ser capaz de empreender essa busca por si mesmo, sem perder a paixão, isto é arte, isto é o filme.
Para finalizar, termino com uma frase de Bergman em uma de suas entrevistas: “Eu nunca pedi que entendesse, pedi apenas que sentisse”

quarta-feira, 24 de abril de 2013

O Professor

Memória é um dom, importante pra edificar ou derrubar de vez, te fornece uma nova perspectiva sobre aquela cena velha, mostrando um momento e o resultado sobre sua vida, é realmente impressionante o impacto desta ferramenta pra separar os humanos dos peixes por exemplo.
Pra mim a juventude foi um momento engraçado, pude ser mil pessoas diferentes e circular por mil lugares, com várias tribos que jamais se misturaram, permanecendo naquela turma apenas o tempo suficiente pra virar saudade ou pra absorver o que eu considerava como bastante, fiz muita história.
Dentre tantos momentos que ficaria horas pra contar cada um deles, me lembrei de um professor de redação que tive da 8 série, o Humberto, um cara genial que marcou minha vida pra sempre e sem dúvidas foi um divisor de águas, esse cara me ensinou o senso crítico, teve a manha de me ensinar a pensar.
Também poderia dissertar séculos sobre como ele realizou esse trabalho árduo de enfiar na cabeça de um adolescente que o mundo poderia ir além de apenas possuir, claro que na época a falta de acesso a internet e ao celular facilitaram bastante, ainda tínhamos que procurar na Barsa e quando muito internet discada aos domingos, mas tirando isso, o cara sabia o que tava fazendo, mesmo que atingisse poucos.
Tem um dia que me recordo particularmente, foi quando ganhei o respeito dele, aquele dia ele sabia que podia contar comigo pra aprender o que ele quisesse ensinar e, foi quando no meio de uma sala lotada de hormônio, espinha e vozes mudando de tom, ele entrou e, sem pedir silêncio, ele fez o silêncio.
O Humberto era todo franzino, magrinho e pequeno, entrou e pediu silêncio baixinho, ninguém ouviu e continuaram a fazer um barulho danado, ele se calou, parou na mesa e ficou olhando todo mundo, esperando a zona acabar, mas foi em vão.
Me lembro que foi a primeira vez que senti vergonha alheia, ao menos que eu me lembre, comecei rindo com todo mundo, mas me calei rápido, sai lá do fundão e me sentei em frente a ele, calada olhando a cena e pensando sozinha como era possível que ninguém respeitasse ou entendesse aquele momento de sabedoria milenar repaginado pra versão adolescente.
Todo mundo quer respeito, atenção, ser ouvido, mas não para pra assimilar que tem alguém querendo falar, se expressar e dividir um momento importante, o que custa minha gente respirar cinco minutos e absorver de coração o que o outro tem a dizer?
Custa caro na minha opinião, custam pessoas disseminando frases de auto ajuda na rede social, falando que pra ter amor, tem que dar amor, que um dia o mundo dá voltas e fulano vai perceber, mas a impressão que tenho tantas vezes é que o mesmo fulano que posta isso, foi quem tava lá sem parar pra ouvir aquele cara cheio de idéias brilhantes na sala.
Atenção minha gente, suas expectativas sobre os outros, são na maioria das vezes a que você frustrou de alguém, é preciso atenção meu povo, pra perceber os finos traços que constroem uma personalidade de caráter, coragem pra ouvir mais e ter menos opinião sobre tudo.
Naquele dia, ele entrou mudo e saiu calado, não disse a que veio, não falou nada, fiquei sem saber até hoje o que ele queria dizer, mas sem dúvida alguma me deixou de lição que o silêncio vale muito, vale a conquista do respeito de outra pessoa ou a perda de alguém admirável para sempre.

A crônica dos 30

Sempre me pego pensando em muitas coisas, talvez por isso esteja onde estou, acredito que o mal de quem pensa muito seja sempre realizar pouco, acredito nisso pensando sobre mim, em como encarei a vida até aqui e o que consegui conquistar, percebi que os passos de quem pensa muito sejam sempre muito vacilantes, inseguros e inundados de uma inquietação tendendo sempre ao menosprezo.
Quando olho em volta, comparo meus medos e desejos aos dos demais, eles são sempre dotados de um infeliz senso comum, maquiados por falsa erudição ou arranhados por uma falsa vaidade que resiste em aparecer sobre a máscara da novidade, não são, talvez tenha pensado muito.
Ainda menina, me lembro de estar sempre sentada em uma mesinha de madeira, dialogando com um boneco quase do meu tamanho, cantando Lobão, entrevistando, compartilhando meu gosto por Jorge Ben e música clássica, ai me lembro da minha mãe contando pra mim, na época com três ou quatro anos que o Jorge Ben era um desertor, traiu a pátria e foi embora, na verdade ela falava do Simonal, mas me lembro que traição foi uma palavra tão forte que só depois de vinte anos voltei a escutar novamente e achando a coisa mais maravilhosa do mundo, nessa época já estava com um cara e sentávamos noite a dentro pra ele tocar violão pra mim e dizer que a "a lua é minha aaa a lua é bela aaa". Ria daquilo e senti que a alegria tomava minha alma, enquanto ríamos da nossa falta de futuro juntos.
Voltando a época de criança, nesse mesmo lugar da mesinha de madeira, tinha minha avó, todos dizem que ela foi quem mais me amou, mas não me lembro do amor dela, me lembro que trair a pátria é ruim, mas não me lembro do amor de avó, aquele que tem cheiro de pão de queijo, de roupas de crochê e tudo limpinho, feito com carinho, percebi que eu não me lembro do amor, esse sentimento eu não consegui ouvir ainda, como a música do Jorge Ben, só me recordo de quanta falta ele faz.
Me lembro do abandono, trair a pátria é uma forma de abandono, você vai embora, porque quando se trai, não pode mais ficar, tem que se mover, sumir, talvez um dia volte, mas naquele momento, só te resta partir.
Não tive festa de quinze anos, tenho meia dúzia de fotos com minha mãe, não tive pai, mas ela me explicou que isso não faz falta, são convenções, eu sempre senti que isso era falta de amor, ela diz que amor é outra coisa, sei que não entendo o amor dela, ela também não entende o meu e assim eu caminhei.
O resultado é que pra mim, não pode haver traição, mas também tem que ter amor, demorei vinte anos pra perdoar o Jorge Ben, mas cheguei nos 30 sem amor, faltou arte, poesia, larguei a música aos três anos e comecei a roubar aqueles bloquinhos de depósito do banco com carbono (poucos vão se lembrar) e, fui brincar de escritório, parei de entrevistar o boneco e comecei a olhar as crianças de longe, sem me misturar, acho que tinha medo, de abandono, de confusão, a verdade, tinha medo de gente.
A gente sempre tem uma mania estranha de compensação, projeção, expectativa ou apego, seja qual for o nome, o resultado é o mesmo, tentativa de adequação, um talento que não tive, me adequei mal as frustrações naturais da vida, era medrosa, apegada a um sonho de Cinderela meio às avessas, não queria o príncipe do cavalo branco, queria mesmo o eternamente, ah! cresci ouvindo o soneto de fidelidade, mas sofria com a parte do seja eterno enquanto dure, pra mim, partir me partia e, foram tantas as partidas que aos trinta tenho um álbum de defunto no peito que cheira a saudade, mas na verdade é mesmo dificuldade de desapegar.
Agora, sufocada, sem espaço pra preencher com coisas novas, me vejo faxinando a casa, preciso jogar fora o que não cabe mais, tenho que criar coragem pra ser alguém além de solidão, velharia e peso, pra encontrar algo leve, novo, não porque quero, mas por sobrevivência, uma questão de vida ou morte literalmente, encontrar uma firmeza que teimo em achar que todos tem mais que eu, pra me manter de pé.
Devo admitir que as fotos que não tenho, a família que não tenho, talvez nunca tenha, me fazem falta, mas mesmo assim, terei que reconstruir outro sonho, esse ai, tá empoeirado de mais, quero agora minha mesinha e meu boneco, pra ouvir aquelas músicas, pra recuperar a arte e poesia e assumir meu papel definitivo, quero a criatividade de volta, a sensibilidade amorosa, o traço fino, a nota que comove.
Afinal, o mesmo peso que destrói, constrói, é uma questão de pensar menos e agir mais, por isso, acredito que quem pensa muito realiza pouco, nosso pensamento nos leva sempre ao irreal, a loucura, é muita sinapse junta pra pouco espaço de concretização.
Quero trazer aquela primeira criança de volta, esse é meu plano de ação, porque me comovia e era capaz de comover, imitava cantor de rock, contava piada, desenhava horas, cantava e era feliz mesmo sozinha, esses desejos continuam os mesmos, mas a coragem mudou, quando brinquei de escritório, o mundo ficou meio cinza e burocrático, talvez fosse mais promissor, mas agora, preciso mesmo é daqueles cadernos de cartografia com papel vegetal, aprender a desenhar e a me soltar, porque TEM que haver esperança novamente.
Chegar aos trinta, portanto, é assustador, mas pode ser também a oportunidade de ouro que a vida, por impaciência da sorte, de te dá de brinde para recomeçar.


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Desejo


Se algum dia ela desejasse mais, desejaria entrar naquele mar de luz
A visão mais linda e avassaladora era o por do sol, na estrada uma linha infinita de beleza, um carmim sem precedentes que terminava nas nuvens. Lá era sua casa um carinho de Deus no coração calejado.
Não há espaço para entender a calma que aquele momento trazia, era a vida entrando na alma, uma alegria por estar naquele cenário. Presentes são assim, não escolhemos, mas quando chegam, deixam a graça de receber.
Entender era o verbo vazio no momento em que tantas cores se misturavam na estrada, era mais que passar, era preencher, o sol e o céu são marcas que não dá pra apagar. 

O meu pé de laranja lima


segunda-feira, 1 de abril de 2013

Semântica

Freud explica:
- Porque você e sua amiga estão nesse clima?
- Misantropia, ela fica neurótica e eu fico com a lobotomia!

domingo, 31 de março de 2013



Livro do Desassossego n. 10

"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância - irmãos siameses que não estão pegados".

Fernando Pessoa

Escolha

"A caça tem vários ângulos de escape, por isso quero morrer caça".

O que ela tinha de melhor? EU

"Quando o ser humano quer desgraçadamente conquistar alguma coisa, ele perde a linhagem do certo e errado"

Cantada

'Se você tivesse a manha do bigode, poderia andar de quatro'

Poesia

O mal de quem tem alma de poesia é estar condenado a viver em um mundo que jamais será o seu.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Mal Menor

Olhe ao redor, não vês que dos males sou o menor?

Itamar Assumpção

Um Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada
Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti

Alexandre O´ Neil

segunda-feira, 11 de março de 2013

Roda gigante

Eu escolho não te querer, não por não sentir, mas por preferir virar história.
Acho que é assim que eu enterro mais um, enterro mais um amante na vala comum, na comuna do coração partido, no asilo do amor caduco.
No fim acho mesmo que esse cemitério é meu parque de diversões.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Tristeza do Jeca



Nestes versos tão singelos
Minha bela, meu amor
Prá você quero contar
O meu sofrer e a minha dor
Eu sou como um sabiá
Que quando canta é só tristeza
Desde o galho onde ele está
Nesta viola canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Eu nasci naquela serra
Num ranchinho beira-chão
Todo cheio de buracos
Onde a lua faz clarão
Quando chega a madrugada
Lá no mato a passarada
Principia um barulhão
Nesta viola, canto e gemo de verdade
Cada toada representa uma saudade
Lá no mato tudo é triste
Desde o jeito de falar
Pois o Jeca quando canta
Dá vontade de chorar
E o choro que vai caindo
Devagar vai-se sumindo
Como as águas vão pro mar.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

O Poço- Pablo Neruda


Cais, às vezes, afundas
em teu fosso de silêncio,
em teu abismo de orgulhosa cólera,
e mal consegues
voltar, trazendo restos
do que achaste
pelas profunduras da tua existência.
Meu amor, o que encontras
em teu poço fechado?
Algas, pântanos, rochas?
O que vês, de olhos cegos,
rancorosa e ferida?
Não acharás, amor,
no poço em que cais
o que na altura guardo para ti:
um ramo de jasmins todo orvalhado,
um beijo mais profundo que esse abismo.
Não me temas, não caias
de novo em teu rancor.
Sacode a minha palavra que te veio ferir
e deixa que ela voe pela janela aberta.
Ela voltará a ferir-me
sem que tu a dirijas,
porque foi carregada com um instante duro
e esse instante será desarmado em meu peito.
Radiosa me sorri
se minha boca fere.
Não sou um pastor doce
como em contos de fadas,
mas um lenhador que comparte contigo
terras, vento e espinhos das montanhas.
Dá-me amor, me sorri
e me ajuda a ser bom.
Não te firas em mim, seria inútil,
não me firas a mim porque te feres.